Atividade física após artroplastia do joelho. O que pode e o que não pode?

O número de artroplastias (próteses) do joelho realizadas ao redor do mundo tem aumentado substancialmente nas últimas décadas. É um reflexo dos resultados extremamente favoráveis na melhora da qualidade de vida, assim como do envelhecimento da população, à medida que a longevidade aumenta. Contudo, é notório também que as artroplastias vêm sendo realizadas em uma faixa etária mais precoce, com uma parcela significativa entre 50 e 60 anos de idade. Desde já, é importante enfatizar que a prática esportiva é possível e desejável após a artroplastia do joelho. Nessa fase da vida, os pacientes ainda são muito ativos e as expectativas de retomar a atividade física após a cirurgia são muito altas. Não é muito fácil encontrar na literatura estudos a respeito da proporção de pacientes que realmente conseguem retomar seus esportes, sendo ainda mais difícil encontrar um consenso sobre as atividades permitidas e aquelas que poderiam colocar em risco a durabilidade da cirurgia. Sabemos que hoje é realista esperar que a maioria das artroplastias dure mais de 15 anos, com muitos pacientes chegando a usufruir o benefício de suas cirurgias até durante duas décadas. Sendo as atividades físicas aeróbicas muito importantes para nossa saúde, elas têm sido recomendadas por várias sociedades médicas, como a American Heart Association e American College of Sports Medicine. Será que atividades físicas mais intensas poderiam reduzir a vida útil das próteses ou mesmo comprometer o resultado de cirurgias? Assim, como pacientes, precisamos saber o que é seguro e recomendado. Como médicos, não podemos criar expectativas não realistas para os pacientes que serão submetidos à cirurgia, o que poderia reduzir drasticamente o grau de satisfação com o procedimento.
Infelizmente, sabemos que muitos pacientes podem não recuperar completamente a mobilidade do joelho e muitos também têm fraqueza residual do quadríceps e da musculatura flexora do joelho até mesmo 1 ou 3 anos após a artroplastia, fatos que podem influenciar forte e negativamente a capacidade desses pacientes retornarem às suas atividades físicas esportivas recreacionais. Certamente, um fator que pode prejudicar bastante é retardar demais para que a cirurgia seja realizada, fazendo com que os pacientes fiquem por muitos anos com extrema limitação funcional, pouca capacidade aeróbica, fraqueza muscular, comorbidades e muito provavelmente com sobrepeso. Na literatura, a taxa de retorno às atividades físicas após artroplastia total é muito variável, indo de pouco mais de 30% até mais de 90% em alguns estudos, sendo que a maioria dos pacientes que conseguem praticar esportes acabam optando por atividades de baixo impacto, como ciclismo, natação, dança, caminhadas ou golfe. Quando comparados com pessoas da mesma idade e não operados, encontramos que os pacientes com artroplastias totais tendem a ser menos ativos do que o recomendado. A prática de esportes parece ser maior quando artroplastias monocompartimentais ou parciais são realizadas, dado que são cirurgias de porte menor. Na média, os pacientes demoram de 4 a 6 meses para retomarem alguma atividade física após artroplastias. Muita controvérsia ainda permanece com relação a quais esportes poderiam ser permitidos, especialmente aqueles com moderado ou alto impacto.
Dados interessante sobre a carga aplicada ao joelho para diferentes atividades
O simples ato de caminhar aplica três vezes o peso corporal sobre joelho. Subir escadas submete o joelho a até cinco vezes o peso corporal, enquanto descer aplica 6 vezes. Na corrida, a carga aplicada varia de 8 a até 14 vezes, quando em alta velocidade (16 km/hora).
O que pode e o que não pode após a artroplastia?
Algumas revisões e metanálises podem ser encontradas na literatura sobre esse assunto, mas não são muitas (vide referências abaixo). Um achado comum dos estudos foi que os pacientes naturalmente reduzem a sua atividade e escolhem atividades de baixo impacto, fazendo com que dados conclusivos acerca de atividades de impacto moderado ou alto sejam bastante limitados.
Precisamos considerar que o nosso joelho natural tem uma propriedade que nunca poderá ser substituída com a colocação da prótese: a capacidade de cicatrização e reparação das lesões. Assim, por mais resistentes que sejam as próteses, elas são feitas basicamente de metal e polietileno, materiais duros e sem capacidade de dissipar ou absorver impactos. Embora as próteses não cimentadas também estejam aumentando bastante em popularidade, a maioria das próteses ainda continuam sendo fixadas ao osso através do uso do cimento ortopédico. É natural e intuitivo supor que atividades como corrida, futebol, voleibol e basquete, que são atividades de alto impacto, não são recomendadas. Elas podem colocar em risco o sucesso da cirurgia, causando danos ao polietileno ou mesmo acelerando o processo de soltura da prótese, reduzindo a sua durabilidade (embora isso não esteja definitivamente comprovado por pesquisas sobre o assunto). Não há consenso com relação ao tênis (simples), levantamento de peso, squash, patinação. Por outro lado, há consenso que as seguintes atividades físicas são permitidas e seguras: Caminhadas, ciclismo, natação, dança, tênis (duplas), canoagem, golfe, boliche. Tudo deve ser decidido de forma individualizada.
É óbvio que quanto mais usarmos a prótese, mais ela sofrerá desgastes. Esse desgaste depende de vários fatores, como a intensidade da carga aplicada sobre os implantes e o tipo de atividade. Reduzir a atividade física, contudo, não é uma decisão sábia: seria o mesmo que trocarmos os pneus de um carro, mas deixá-lo na garagem com medo de gastar os pneus. É necessário saber usufruir dos benefícios e da qualidade de vida que artroplastia do joelho oferece, escolhendo atividades físicas seguras e que proporcionam estilo de vida saudável.
Fontes:
Allowed Activities After Primary Total Knee Arthroplasty and Total Hip Arthroplasty.
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Orthop Clin North Am. 2020 Oct;51(4):441-452
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Return to Sports and Physical Activity After Total and Unicondylar Knee Arthroplasty: A Systematic Review and Meta-Analysis.
Witjes S, Gouttebarge V, Kuijer PP, van Geenen RC, Poolman RW, Kerkhoffs GM.
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Joelho, Trauma e Esporte









