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Cirurgias ortopédicas e Depressão.

Qual a razão dos pacientes sentirem-se deprimidos no pós-operatório e o que pode ser feito?

Uma mulher está parada na grama com uma caixa de papelão na cabeça.

É extremamente comum que os pacientes, especialmente após cirurgias de maior porte, como artroplastias de joelho, relatem tristeza, desânimo, choro fácil. Justamente quando a motivação precisa ser maior para enfrentar a reabilitação pós-operatória e as sessões de fisioterapia, os pacientes podem se sentir depressivos. A depressão é um transtorno de saúde mental generalizado caracterizado por sentimentos de tristeza, desespero e diminuição do interesse ou prazer nas atividades. A decisão para operar é difícil, requer tempo, mas justamente quando o passo foi dado em direção à uma melhor qualidade de vida, surgem os sintomas depressivos que podem atrapalhar tudo? Há inúmeras teorias e explicações para esta reação psicológica negativa frequente após cirurgias não apenas ortopédicas. Uma possível razão é a presença de dor pós-operatória, que foi encontrada positivamente associada a sintomas depressivos. Além disso, há evidências de uma relação recíproca entre sintomas depressivos e dor perioperatória, sugerindo que os sintomas depressivos também podem predizer a dor pós-operatória de maior intensidade. A analgesia pós-operatória, portanto, é primordial, para melhor conforto e facilidade de reabilitação. Pacientes com depressão também podem ter níveis mais altos de dor pós-operatória em comparação com aqueles sem depressão. Outro fator é a ansiedade sentida pelos pacientes antes e durante a cirurgia, que pode contribuir para a depressão pós-operatória. Há a sensação de fragilidade, do tempo passando rápido, da velhice se aproximando, a recordação de quando tudo era diferente... Além disso, distúrbios eletrolíticos, como hiponatremia e hipocalcemia, foram identificados como fatores de risco para o delírio pós-operatório, o que pode contribuir para os sintomas depressivos. Em geral, a experiência de dor, ansiedade e complicações pós-operatórias podem contribuir para o desenvolvimento de sintomas depressivos em pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas.

Cirurgias ortopédicas, como cirurgias no joelho, intervenções em traumas e fraturas de membros inferiores, são procedimentos destinados a recuperar a saúde musculoesquelética dos pacientes e a qualidade de vida geral, mas os sintomas depressivos não podem ser ignorados. Recentemente, métodos e questionários específicos para diagnosticar a depressão antes da cirurgia têm sido preconizados, para permitir o tratamento antes da cirurgia e minimizar as implicações do estado de ânimo depressivo nos resultados das cirurgias ortopédicas.

A prevalência de sintomas depressivos em pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas de grande porte é alta. Uma revisão sistemática realizada por Stubbs et al. (2016) constatou que aproximadamente 20% dos pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas apresentam sintomas depressivos significativos no período pré-operatório.

Há vários fatores de risco que contribuem para o desenvolvimento de sintomas depressivos em pacientes ortopédicos. Temos o destaque da dor crônica, seguida pela limitação funcional, condições psiquiátricas pré-existentes e a antecipação dos resultados da própria cirurgia. Pacientes com fraturas de membros inferiores são particularmente vulneráveis ao desenvolvimento de sintomas depressivos devido à perda abrupta de mobilidade e independência que ocorre no período que antecede a cirurgia, assim como durante parte significativa da recuperação (Dunn et al., 2018).


Diagnóstico da Depressão Antes da Cirurgia Ortopédica


A primeira consulta raramente é um bom momento para se tomar a decisão de operar. O médico precisa conhecer melhor o paciente e vice-versa. As expectativas com a cirurgia precisam ser realistas e o paciente deve entender o procedimento e os cuidados que serão necessários, os riscos envolvidos e os resultados esperados. As clínicas de fisioterapia são uma excelente oportunidade para conhecer pacientes em várias fases de recuperação e ter uma ideia de como serão as próximas semanas.

Na tentativa de identificar sintomas depressivos, uma vez que já vimos que eles influenciam negativamente o resultado das cirurgias, a percepção de melhora dos pacientes e até mesmo aumentam os riscos de infecção (provavelmente por alterações na imunidade pelo estresse), há instrumentos de triagem de sintomas depressivos, como o Questionário de Saúde do Paciente-9 (PHQ-9) e a Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar (HADS), que são ferramentas validadas para avaliar a depressão (Kroenke et al., 2001; Zigmond & Snaith, 1983). A incorporação desses instrumentos nas avaliações pré-operatórias e consultas com especialistas em saúde mental podem ajudar a identificar e tratar pacientes em risco.

Consulta Psiquiátrica: Em casos de suspeita de depressão ou questões psicossociais complexas, consultar um psiquiatra para uma avaliação abrangente é desejável e necessário. A colaboração entre cirurgiões ortopédicos e profissionais de saúde mental pode garantir que os pacientes recebam cuidados adequados e tenham um melhor resultado da cirurgia, com menos dor, melhor conforto, maior facilidade na recuperação funcional, menor consumo de medicamentos e menos complicações.


Implicações dos Sintomas Depressivos nos Resultados das Cirurgias Ortopédicas


Recuperação Prolongada: Sintomas depressivos estão ligados a uma recuperação pós-operatória mais lenta e taxas mais altas de complicações pós-operatórias (Tung et al., 2017).


Percepção Aumentada da Dor: O estado de ânimo depressivo pode amplificar a percepção da dor, o que pode afetar negativamente as estratégias de controle da dor após a cirurgia. Esse fenômeno é atribuído a alterações nas vias de processamento da dor no cérebro (Darnall et al., 2017).


Adesão Reduzida ao Tratamento: Pacientes com sintomas depressivos podem ser menos colaborativos e dedicados aos programas de reabilitação pós-operatória, comprometendo potencialmente o resultado cirúrgico. Abordar a depressão pode melhorar a adesão ao tratamento (Hoffman et al., 2007).


Conclusões


A relação entre sintomas depressivos e cirurgias ortopédicas é complexa e infelizmente ainda subestimada. O erro mais comum é achar que tudo irá melhorar após a cirurgia, pois a dor e a limitação são as causas da depressão. Todavia, muitos outros fatores pessoais, familiares e emocionais podem estar envolvidos. Sintomas depressivos são muito prevalentes em pacientes ortopédicos, e seu impacto nos resultados cirúrgicos não pode ser esquecido.

O diagnóstico da depressão precisa ser suspeitado antes da cirurgia, incluindo o uso de ferramentas de triagem validadas e consulta psiquiátrica quando necessário. Esse tempo dedicado ao tratamento dos aspectos psicológicos será certamente recuperado no pós-operatório e o paciente poderá usufruir mais rapidamente de todos os benefícios na independência funcional e qualidade de vida que a cirurgia bem indicada irá proporcionar.

 

Referências:

 

1.     Stubbs, B., Eggermont, L., Soundy, A., Probst, M., & Vancampfort, D. (2016). An examination of the anxiolytic effects of exercise for people with anxiety and stress-related disorders: A meta-analysis. Psychiatry Research, 241, 27-36.

2.     Dunn, L., Williams, G., & Metherell, L. (2018). Factors influencing recovery following lower limb fracture. Journal of Psychosomatic Research, 114, 92-100.

3.     Kroenke, K., Spitzer, R. L., & Williams, J. B. (2001). The PHQ-9: validity of a brief depression severity measure. Journal of General Internal Medicine, 16(9), 606-613.

4.     Zigmond, A. S., & Snaith, R. P. (1983). The hospital anxiety and depression scale. Acta Psychiatrica Scandinavica, 67(6), 361-370.

5.     Tung, Y. C., Tu, H. P., Shih, C. L., Chen, Y. T., & Lin, G. T. (2017). Influence of depressive symptoms on functional outcome after total knee arthroplasty. Journal of Arthroplasty, 32(12), 3553-3557.

6.     Darnall, B. D., Sturgeon, J. A., Cook, K. F., Taub, C. J., Roy, A., Burns, J. W., ... & Mackey, S. C. (2017). Development and validation of a daily pain catastrophizing scale. The Journal of Pain, 18(9), 1139-1149.

7.     Hoffman, B. M., Babyak, M. A., Craighead, W. E., Sherwood, A., Doraiswamy, P. M., Coons, M. J., ... & Blumenthal, J. A. (2007). Exercise and pharmacotherapy in patients with major depression: one-year follow-up of the SMILE study. Psychosomatic Medicine, 69(7), 587-596.


Joelho, Trauma e Esporte

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