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Cirurgia robótica do joelho

Cirurgias ortopédicas realizadas por robôs não pertencem mais apenas à nossa imaginação. Robôs têm participação atuante na indústria há algumas décadas, sendo o setor automobilístico um exemplo. Embora pouco conhecido pela maioria das pessoas e com uso relativamente recente no Brasil, a cirurgia robótica tem tido papel de destaque na neurocirurgia e na urologia, sendo que na ortopedia, ganhou papel relevante nos últimos anos. Ainda não podemos falar em cirurgias completamente realizadas por robôs e sem participação humana, mas artroplastias totais e parciais do joelho já são realizadas com muita segurança e precisão, onde os cirurgiões são auxiliados por braços robóticos que buscam minimizar erros e garantir acurácia no posicionamento dos componentes da prótese, resultando em um membro bem alinhado, com melhores resultados clínicos e com ótima mobilidade articular. Há vários sistemas de cirurgia robótica: passivos, ativos, hápticos, autônomos ou de controle limítrofe. Basicamente, é necessária uma calibração do sistema computadorizado, onde são adquiridos dados de exames de tomografia computadorizada realizados no período pré-operatório ou dados colhidos com sensores já durante a própria cirurgia e, após essa calibração, o cirurgião realiza a programação ou o planejamento da colocação da prótese, incluindo a angulação e a espessura dos cortes ósseos, o tamanho dos componentes, a angulação resultante tanto no plano coronal, como sagital e axial. A cirurgia robótica incorpora a chamada navegação computadorizada, onde sensores são colocados no fêmur e na tíbia e monitoram, em tempo real, todas as etapas da cirurgia. Note que o cirurgião ainda é a cabeça pensante e o fator decisivo no resultado. O sistema robótico garante a execução com precisão no procedimento de acordo com o planejamento previamente realizado, assim como a segurança, avisando ou mesmo impedindo que passos errôneos sejam dados fora desse planejamento. Por exemplo, o robô pode impedir que o cirurgião corte com a serra além do local programado, protegendo nervos e artérias, ou resseque mais osso do que o recomendado. Em cirurgias habituais rotineiras, a utilização de sistemas de navegação ou robóticos tem sido questionada pelos cirurgiões mais experientes e mesmo em trabalhos científicos recentes. Simplificando, seria o mesmo que precisar de GPS ao ir do trabalho para casa todos os dias, em condições normais. Por outro lado, se tivermos reformas no caminho ou trajetos pelos quais não estamos acostumados a passar, o GPS pode ajudar bastante. Da mesma forma, em situações de deformidades articulares não habituais, cirurgias prévias ou deformidades extra-articulares por consolidações viciosas de fraturas, definitivamente é muito interessante ter o auxílio de sistemas de navegação computadorizada e cirurgias auxiliadas por robôs. Em nosso país, dois sistemas estão disponíveis neste momento, em 2021 (Mako - Stryker e Rosa - Zimmer), não sendo o intuito desse artigo comentar as diferenças entre eles ou eventuais vantagens e desvantagens. Dados preliminares mostram que tanto para artroplastias totais como para artroplastias parciais, os sistemas de navegação, associados ou não a sistemas robóticos, têm uma tendência a uma melhor acurácia e precisão no posicionamento dos componentes, porém ainda faltam dados conclusivos em estudos de longo prazo, por ser uma tecnologia relativamente recente. Não há muitos estudos comparativos na literatura realizados de forma controlada, prospectiva e randomizada, mas pesquisas preliminares já nos permitem traçar algumas conclusões com relação aos resultados clínicos, que mostram uma tendência para resultados iguais ou superiores com a robótica, inclusive com alguns autores mostrando menor dor e melhor satisfação pós-operatória dos pacientes.

Um artigo recente (OrthoEvidence. Evaluation of Clinical and Safety Outcomes of Robotic Arm-assisted Versus Conventional Unicompartmental Knee Arthroplasty: A Systematic Review of Randomized Controlled Trials. OE Original. 2021;4(12):2. Available from: https://myorthoevidence.com/Blog/Show/161) avaliou de forma sistematizada resultados de estudos controlados e randomizados, analisando resultados clínicos e aspectos relacionados à segurança dos procedimentos, de pacientes submetidos a artroplastias unicompartimentais do joelho assistidas por braços robóticos, comparando os dados com aqueles obtidos de pacientes submetidos a cirurgias de artroplastias parciais realizadas de forma convencional. Cinco estudos foram incluídos, totalizando mais de 300 pacientes (Banger et al., 2021; Batailler et al., 2021; Bell et al., 2016; Cobb et al., 2006; Gilmour et al., 2018). O período de acompanhamento variou de 6 meses a 5 anos. Foram analisados escores validados de avaliação funcional do joelho (Oxford Knee Score, Knee Society Score, Forgotten Joint Score), dor (através da Escala Visual Analógica - EVA ou VAS) e taxas de revisão, que refletem eventuais complicações do procedimento, como soltura dos componentes ou insucesso no alívio dos sintomas. Outro estudo, agora com artroplastias totais realizado na China, não mostrou diferenças clínicas entre pacientes operados com auxílio de robôs e pacientes com técnicas convencionais, mas há uma leve vantagem na precisão do posicionamento da prótese com auxílio robótico. Se isso fará alguma diferença ao longo dos anos, ainda não sabemos.

Assim, as pesquisas até o momento não mostram se os resultados das cirurgias auxiliadas por robôs são superiores aos resultados das cirurgias convencionais, mas confirmam a segurança da cirurgia robótica, o que pode ser um avanço significativo e muito promissor nos casos mais complicados.

Tive a oportunidade de realizar treinamento em cirurgia por navegação computadorizada na França em 2017 (ATLAS - Amplitude Training Lab on Anatomical Specimens) e minha experiência com cirurgias navegadas na Clínica Civil, no Hospital das Clínicas - USP foi excelente. Aguardamos a disponibilidade do sistema robótico em Ribeirão Preto. Considerando a experiência e o volume de cirurgias no exterior com essa nova técnica e a curva de aprendizado tornando os procedimentos melhores e mais rápidos, a impressão é que se trata de um avanço que veio para ficar de forma definitiva.


OrthoEvidence. Evaluation of Clinical and Safety Outcomes of Robotic Arm-assisted Versus Conventional Unicompartmental Knee Arthroplasty: A Systematic Review of Randomized Controlled Trials. OE Original. 2021;4(12):2. Available from: https://myorthoevidence.com/Blog/Show/161


Xu J, Li L, Fu J, Xu C, Ni M, Chai W, Hao L, Zhang G, Chen J. Early Clinical and Radiographic Outcomes of Robot-Assisted Versus Conventional Manual Total Knee Arthroplasty: A Randomized Controlled Study. Orthop Surg. 2022 Jul 18. doi: 10.1111/os.13323. Epub ahead of print. PMID: 35848154.



Joelho, Trauma e Esporte

Imagem de avião e texto sobre viajar com próteses metálicas.
Por FABRICIO FOGAGNOLO 28 de outubro de 2024
Viajar de avião pode levantar muitas dúvidas para quem utiliza próteses ortopédicas, especialmente quanto à passagem pelo controle de segurança nos aeroportos e pelos detectores de metais.
Cirurgiões atuando em procedimento ortopédico
Por FABRICIO FOGAGNOLO 24 de setembro de 2023
Lidar com a ansiedade antes de uma cirurgia pode ser desafiador, mas existem várias estratégias que podem ajudar a reduzir o estresse e promover uma sensação de calma e controle. O medo pode impedir definitivamente os pacientes de uma vida ativa, da prática de esportes, das viagens e até mesmo do convívio com a família.
Pessoa com uma caixa na cabeça em alusão aos transtornos depressivos
Por FABRICIO FOGAGNOLO 17 de setembro de 2023
Justamente quando a motivação precisa ser maior para enfrentar a reabilitação pós-operatória e as sessões de fisioterapia, os pacientes podem se sentir depressivos. A depressão é um transtorno de saúde mental generalizado caracterizado por sentimentos de tristeza, desespero e diminuição do interesse ou prazer nas atividades.
radiografias mostrando planejamento de osteotomia do joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 7 de dezembro de 2022
Uma cirurgia que percebo muita resistência por parte dos pacientes no tratamento da osteoartrite do joelho é a osteotomia. O fato é que essa cirurgia é muito menos agressiva e com recuperação mais fácil do que a maioria das pessoas imagina. O paciente ideal é aquele que possui osteoartrite (desgaste) do joelho acometendo apenas um lado da articulação, com boa preservação da cartilagem e do menisco do lado contralateral, e que possui alterações anatômicas em ângulos específicos que são medidos em radiografias panorâmicas no estudo do alinhamento do membro inferior.
Várias injeções ou infiltrações que podem ser aplicadas no joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 15 de abril de 2022
As infiltrações intra-articulares no joelho têm efeito mais localizado, sempre foram populares e muitos medicamentos podem ser empregados, com diferentes eficácias. As principais indicações das infiltrações são para pacientes em estágios não tão avançados de doença, pouca melhora com reabilitação fisioterápica, desejo de postergar cirurgias maiores ou quando o paciente tem problemas clínicos que aumentam o risco cirúrgico.
Pessoa dirigindo veículo após cirurgia de joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 24 de janeiro de 2022
Uma das grandes preocupações quando um paciente é submetido a uma cirurgia de joelho é quando seria o momento seguro para voltar a dirigir. Todos nós queremos rapidamente retomar as nossas atividades, tanto no trabalho, como nos esportes, mas dirigir um veículo após operar o joelho tem duas preocupações principais: uma delas é sobre a segurança da cirurgia em si, para não prejudicar o resultado da operação.
Paciente operada dos 2 joelhos simultaneamente - colocação de prótese
Por FABRICIO FOGAGNOLO 21 de novembro de 2021
Operar ao mesmo tempo os dois joelhos deveria ser conveniente e ter várias vantagens: recuperação mais rápida, uma única cirurgia e internação, uma única anestesia, maior facilidade para a família se organizar e providenciar os cuidados do paciente, que geralmente é idoso, menores custos de tratamento, menos tempo dentro do hospital. O problema é que há muitos estudos relatando riscos aumentados de complicações sérias em pacientes submetidos a colocação de prótese em ambos os joelhos.
Radiografia de prótese parcial de joelho
Por FABRICIO FOGAGNOLO 17 de setembro de 2021
Quanto tempo minha cirurgia vai durar? Essa pergunta é relativamente fácil de responder, e a resposta é: Muito! A prótese de joelho geralmente dura muito. E “muito” significa que mais de 95% das cirurgias geralmente passam dos 15 anos de durabilidade.
Artroscopia mostrando lesão degenerativa do menisco
Por FABRICIO FOGAGNOLO 15 de agosto de 2021
O tratamento das lesões degenerativas segue o mesmo princípio de todas as outras lesões do menisco: preservação ao máximo do tecido meniscal, o que é extremamente importante para a manutenção da saúde articular e evitar degeneração condral.
Paciente com artroplastia de joelho andando de bicicleta
Por FABRICIO FOGAGNOLO 4 de agosto de 2021
É óbvio que quanto mais usarmos a prótese, mais ela sofrerá desgastes. Esse desgaste depende de vários fatores, como a intensidade da carga aplicada sobre os implantes e o tipo de atividade. Reduzir a atividade física, contudo, não é uma decisão sábia: seria o mesmo que trocarmos os pneus de um carro, mas deixá-lo na garagem com medo de gastar os pneus. É necessário saber usufruir dos benefícios e da qualidade de vida que artroplastia do joelho proporciona, escolhendo atividades físicas seguras e que proporcionam estilo de vida saudável.
campo de futebol
Por FABRICIO FOGAGNOLO 30 de julho de 2021
A lesão do ligamento cruzado anterior do joelho é extremamente comum, particularmente na população jovem e ativa e em esportes que envolvem mudanças rápidas de direção e movimentos rotacionais. É intuitivo considerar que quanto mais rapidamente seja realizada a cirurgia, menores serão os riscos do desenvolvimento de lesões associadas nos meniscos. O que diz a literatura ortopédica sobre isso?
Bactérias aderidas à superfície de um implante. Texto sobre infecção após artroplastia do joelho.
Por FABRICIO FOGAGNOLO 21 de julho de 2021
Entre os temores e ansiedades que estão relacionados com a decisão de submeter-se a uma cirurgia de joelho de grande porte destacam-se o medo da anestesia e a possibilidade de infecção do sítio operatório, cujo risco situa-se em 1 a 2% de todos os pacientes operados.
Comprimidos de anti-inflamatórios
Por FABRICIO FOGAGNOLO 20 de julho de 2021
Embora haja ainda alguma controvérsia em estudos com animais, a maioria dos estudos em humanos aponta um prejuízo significativo do uso prolongado de anti-inflamatórios sobre a consolidação das fraturas. Períodos curtos, inferiores a 2 semanas, não causam grandes problemas. Assim, se teve uma fratura, procure usar analgésicos quando necessário, mas evite anti-inflamatórios!
Pessoas correndo na rua em grupo
Por FABRICIO FOGAGNOLO 11 de julho de 2021
A associação entre corrida e o desenvolvimento da artrose no joelho (osteoartrite) não é bem clara. Nesse artigo exploramos as evidências mais recentes sobre o assunto. A corrida permanece sendo uma ótima atividade física, sendo até mesmo protetora quando praticada de forma leve a moderada. O risco aumentado para o joelho parece ser na prática de alta intensidade ou quando há fatores predisponentes para osteoartrite.
Lesão em alça de balde do menisco medial
Por FABRICIO FOGAGNOLO 12 de março de 2019
As lesões nos meniscos causam dores e desconforto em graus variáveis, podendo limitar bastante as atividades físicas em atletas ou, até mesmo, nas atividades cotidianas em pessoas sedentárias aos mínimos esforços.
Dor no joelho durante atividade física
Por FABRICIO FOGAGNOLO 12 de março de 2019
A cirurgia do joelho é bastante comum e apresenta elevadas taxas de resolução dos problemas e satisfação aos que passam pelo procedimento — e isso garante melhor qualidade de vida aos pacientes.
Osteotomia do fêmur e da tíbia para correção de genu varo
Por FABRICIO FOGAGNOLO 12 de março de 2019
Alguns cuidados antes e depois de uma cirurgia garantirão uma recuperação sem transtornos para o paciente e seus familiares.
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