A escolha entre calor ou gelo no tratamento das dores articulares depende da condição específica sendo tratada e da preferência do paciente. Ambas as modalidades proporcionam alívio, mas os efeitos podem variar.
A terapia com gelo, também chamada de crioterapia, é frequentemente utilizada para reduzir a inflamação e a dor aguda, como observamos nos traumatismos recentes, como entorses, luxações, fraturas e contusões. O gelo funciona diminuindo a temperatura dos tecidos, causando vasoconstrição, redução da permeabilidade capilar e, consequentemente, reduzindo o edema e a liberação de mediadores inflamatórios no local traumatizado. O frio ainda promove um aumento no limiar para que o estímulo doloroso se manifeste, aumentando a tolerância à dor. Esta estratégia pode ser particularmente benéfica após cirurgias, nas lesões agudas ou agudizações de artrites, onde a inflamação é mais perceptível.
O tratamento com calor, por sua vez, é tipicamente mais utilizado para promover o relaxamento dos tecidos e estimular o suprimento sanguíneo para a área, aumentando a vasodilatação. Costuma ser mais eficaz para as dores crônicas e melhorar a rigidez, pois ajuda a aumentar a elasticidade tecidual e relaxar as contraturas musculares.
O Colégio Americano de Reumatologia (American College of Rheumatology/Arthritis Foundation guidelines) recomenda tanto o calor quanto o frio no contexto do manejo das dores da osteoartrite. A escolha entre as duas modalidades de tratamento pode então ser baseado na preferência individual do paciente, uma vez que os estudos não mostram uma clara a superioridade de um método sobre o outro. Já nas lesões agudas musculoesqueléticas, a terapia com gelo é geralmente preferida no controle da inflamação inicial, enquanto o calor pode ser iniciado mais tardiamente para ajudar no relaxamento dos tecidos e na cicatrização.
É interessante observar na prática clínica que o frio costuma piorar as dores crônicas, e então é mais frequente que os pacientes observem melhora mais importante ao aquecer as suas articulações com artrose. Já após sessões de reabilitação na fisioterapia, esportes ou esforços, é nítido que o gelo costuma fazer maior benefício, evitando que as articulações aumentem de volume e ocorra a piora do edema ou do derrame articular. Muita atenção também deve ser dada ao tempo em que a temperatura é aplicada sobre a articulação. Não deve haver exagero. O calor aplicado deve ser confortável e agradável para evitar queimaduras. Ou mesmo deve ser considerado ao ser aplicado gelo, não devendo ser excedido o tempo de 30 minutos. Recomenda-se também proteger a pele com tecido ou algum material que impeça queimaduras pelo frio, principalmente quando existe o risco de adormecer com o gelo em contato com a pele. Existem várias bolsas e dispositivos apropriados para termoterapia, reduzindo riscos de complicações. Há bolsas e até mesmo dispositivos que promovem circulação de água quente ou gelada de forma contínua, mas sem grandes evidências de diferença em termos de eficácia. O gelo não deve ser utilizado em pacientes com problemas circulatórios (Ex: doença de Raynaud, insuficiência vascular periférica) e pode piorar a dor na artrite reumatóide.
Resumindo, não há certo ou errado! O paciente pode seguir sua preferência. Como regra geral, procure colocar gelo após cirurgias ou sempre que você se exceder nos exercícios, sofrer algum traumatismo ou lesão recente. Proteja a pele e limite a aplicação do gelo em 30 minutos. Para as dores crônicas, especialmente causadas pela osteoartrite e em climas frios, o calor costuma ser melhor. Mas também sem exagero.
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ROA - Departamento de Ortopedia e Anestesiologia da FMRP-USP